segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Só as cachorras me amam de verdade

Só as cachorras me amam de verdade
(A matemática do amor)
Casei-me por seis vezes, embora sempre quisesse um relacionamento duradouro. Não chegarei ao sétimo, porque além de sete ser conta dos mentirosos, o número sete é também cabalístico. Errei nos cinco casamentos anteriores. E não pretendo errar mais. Para isto desenvolvi uma tecnologia: “A Matemática do Amor”. Não estou sendo nem um pouco original. Ela já existia, embora não a conhecesse. Nela encontrei os parâmetros irrefutáveis e precisos no auxílio à busca de uma esposa e de um relacionamento perfeitos. Foi somente mais tarde que tomei conhecimento de um trabalho mais aprofundado de um psicólogo americano.
Nunca ouviu falar na “Matemática do Amor”? No meu estudo, e eu nunca fui lá de muito estudo, ela não passa de uma aritmética do relacionamento e consiste mais ou menos no seguinte: homem esperto + mulher esperta= romance; homem esperto + mulher burra = caso; homem burro + mulher esperta= casamento; homem burro + mulher burra= gravidez. Obviamente que o trabalho do psicólogo americano é muito mais elaborado e envolve variáveis como: companheirismo, cumplicidade, amizade, sexo, respeito, fidelidade, etc., como elementos de mensuração de um relacionamento perfeito. Talvez seja por isso que os cinco primeiros casamentos não tenham dado certo.
Se fui feliz nesses casamentos? Fui sim. Por dez vezes. No dia da lua-de-mel e no dia da separação. Não me condene. Você provavelmente esteja passando por isso. Mas vai um conselho de quem tem experiência no assunto: não se precipite. Aplique a “matemática do amor” ao seu relacionamento. É muito simples: de um lado enumere dez sentimentos e comportamentos positivos seu e de sua companheira, dê notas de 0 a 10 para cada um dos itens. Na outra coluna, enumere as 10 coisas negativas entre vocês (as piores, como não levantar a tampa do vaso ao fazer xixi ou aquele pijama velho dela, coisas que desgastam o relacionamento no dia a dia). Deu nota para cada um dos itens? Para eficácia do teste, volto enfatizar, não deixe nada de fora da lista. Os defeitos escabrosos principalmente, como aquelas suas falhas de ereção ou a frigidez dela. Agora some os pontos de cada coluna, positivos e negativos. Veja o resultado: se a diferença entre eles for acima de 50% negativa, me perdoe, mas vocês dois são homo afetivos. Tratem de procurar seus pares. Se a diferença for de 40% a 10% negativa, vocês são incompatíveis. Procurem um advogado, é caso perdido. Se a diferença for 0%, vocês estão no limite do relacionamento, procurem ajuda, façam terapia de casal. De 10 a 30% positiva, relacionamento instável, mais diálogo entre vocês e resolvam os pontos negativos. De 40 a 60%, vocês estão na média nacional das grandes cidades. Ninguém consegue manter um relacionamento perfeito saindo de casa às cinco da manhã e voltando as dez da noite. Você mora no interior? Então precisa melhorar. Entre 70 e 80%, vocês não têm preocupação com o casamento. Moram em condomínios de luxos, têm carros importados, vivem uma vida de aparências, ambos têm amantes e se acham muito felizes com a falsa vida que levam. Agora, se a diferença for maior que 99% positiva, o teste não tem validade, pois não vale fazê-lo com amante.
Estava me esquecendo: “só as cachorras me amam de verdade” foi um título aleatório. Mudei de assunto no transcurso do texto. Mas para criar nexo entre ambos, farei um remendo aqui neste ponto. O meu sexto casamento é perfeito. Ela tem um personal exclusivo (bota exclusivo nisto), carro importado e um cartão de crédito sem limites. Fica o dia inteiro no shopping fazendo compras, enquanto eu fico cuidando de minhas “cachorras”.
victorlasson@gmail.com
Victor Laçon

Victor Laçon, francês, 41 anos, jornalista e escritor, apaixonado pelo Brasil, mais pelas brasileiras, radicado no Rio há 11 anos. É correspondente do Le Monde ou Le Figaro

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